Dom José Freire Falcão, um grande irmão

Foto Arquidiocese de Brasília

Na noite do último domingo, perdi o querido irmão Dom Falcão. A Arquidiocese de Brasília expressou que sua ausência é sentida por amigos e fiéis pela marca indelével que ele deixou nas numerosas obras pastorais que ensejou durante os vinte anos que governou a Igreja Particular.

Pessoalmente, me sinto órfão de um irmão maior que influenciou em momentos decisivos de minha vida sacerdotal. Somos de origem da mesma diocese de Limoeiro do Norte. Quando entrei no Seminário, em início de 1950, ele tinha sido ordenado sacerdote no final de 1949.

Ele não só foi meu professor de português, física e química, mas sobretudo foi modelo de vida apostólica marcante nos meus primeiros anos de padre.

Padre Falcão foi de uma geração de muita vitalidade no Seminário de Fortaleza, dirigido pelos padres lazaristas. Muitos dos seus professores tinham realizado os estudos teológicos na França. Daí traziam as novidades da caminhada eclesial que desaguou no Concílio Vaticano II: renovação litúrgica, renovação eclesial, a missão dos leigos/as, sobretudo através da Juventudes Agrárias (JAC), Juventude Operária (JOC), Juventudes Estudantis e Universitárias (JEC, JUC).

Padre Falcão assimilava tudo e nos transmitia na formação sacerdotal. Nosso relacionamento se consolidou nesse período.

Fui um dos seus discípulos e admiradores. Acompanhei-o na participação do primeiro encontro nacional da JAC, em Natal-RN (1955).

Vivíamos num momento de Igreja de muita criatividade no Brasil e sobretudo no Nordeste. No período, nascem as Campanhas da Fraternidade, o Movimento de Educação de Base-MEB por meio das rádios católicas e muitas iniciativas da Juventude Agrária Católica-JAC. Dom Falcão chegou a ser presidente do MEB.

O nosso mentor apostólico, em 1967, foi nomeado bispo coadjutor da diocese de Limoeiro do Norte após a morte de Dom Aureliano Matos. Na diocese, realizava programas sobre o Concílio Vaticano II por meio da rádio diocesana.

Sua cultura e dedicação eclesial o distinguiram para as funções de arcebispo de Teresina-PI (1971) e arcebispo de Brasília-DF (1984). Foi criado cardeal pelo Papa João Paulo II, em 1988.

Dom Falcão teve a graça de participar das duas conferências episcopais latino-americanas: em Medellin (1968) e em Puebla (1979).

Na arquidiocese de Brasília, criou o Centro de Filosofia e Teologia, fundou a Comissão Justiça e Paz de Brasília (1986), a Rádio Nova Aliança entre outros. Escrevia mensalmente no jornal local Correio Brasiliense, levando reflexões do Ensino Social da Igreja.

Uma vez por mês, celebrávamos juntos a eucaristia e partilhávamos reflexões. Nos últimos anos, com o avançar da idade, sua dinâmica eclesial e criatividade diminuíram, mas jamais perdeu a generosidade e humildade, traços marcantes em sua trajetória.

A arquidiocese de Brasília, ao comunicar a Ressurreição de Dom Falcão, pontuou: “Pedimos ao povo de Deus que, através das suas orações, entregue esse bom pastor ao Senhor Jesus Cristo supremo pastor de nossas almas”,

Pe. José Ernanne Pinheiro – membro da Comissão Justiça e Paz de Brasília.

 

Você pode gostar também

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *