Morre o bispo Pedro Casaldáliga, referência na luta pelos direitos humanos e contra todas as formas de autoritarismo que sufocam o social e produzem exclusão e espoliação do povo. O ‘Bispo do Povo’, assim chamado por sua comunidade, que escapou do franquismo em sua terra catalã, se radicou no Brasil desde 1968 e se dedicou, sem esmorecimento e contra todas as ameaças, com várias tentativas de assassinato e com mais de cinco iniciativas para expulsá-lo do País, ao trabalho profético e missionário, pela causa dos pobres e, sobretudo, pelos direitos dos camponeses sem terra e indígenas, boa parte desse trabalho na Prelazia de São Felix do Araguaia, da qual é bispo emérito e somente a morte o retirou de seu serviço pastoral.
Imperativos políticos ou teológicos jamais o desencorajaram em seu apostolado de libertação, dedicando-se a promover e apoiar inúmeros movimentos sociais na América Latina. Um dos fundadores do Conselho Indigenista Missionário (CIMI) e da Comissão Pastoral da Terra (CPT), teve papel importante na transição democrática e na elaboração da Constituição de 1988, marco dos direitos sociais e indígenas no país.
O Programa de Justiça e Paz que a CJP-DF do último sábado na Rádio Nova Aliança, foi dedicado a esse claretiano e agostiniano fiel ao mandato de testemunho e de solidariedade ao Povo de Deus, exaltando o seu carisma e discernimento traduzidos numa obra consistente que articula teologia (da libertação), política e alta espiritualidade. Nessa obra, com inexcedível sentimento fraterno têm relevo a utopia, a esperança e a espiritualidade, embaladas em profundo amor ao seu compromisso com os pobres e sobretudo com os indígenas. Estes fundamentos estão presentes nas obras: “Missa da Terra sem Males” que escreveu com Pedro Tierra e Arturo Paoli, em “Creio na Justiça e na Esperança”, em “Sempre é Possível a Utopia”, em “Experiência de Deus e Paixão pelo Povo. Escritos Pastorais”, em “Espiritualidade da Libertação”, entre dezenas de outros escritos.
Sua páscoa, traz tristeza mas simultaneamente conforto, porque homem semente, renasce ao ser enterrado e se faz memória e exemplo entre nós. Como diz o título de uma de suas obras, a sua morte é a “Morte que dá sentido ao meu credo”.
Por Comissão Justiça e Paz de Brasília