Vários meios de comunicação assinalaram nesse dia 15 de janeiro o fato histórico alusivo à eleição de Tancredo Neves no Colégio Eleitoral previsto na normativa do regime ditatorial. De fato, para muitos, esse fato demarca o fim do regime autoritário instalado com o Golpe civil-militar de 1964 e o início da transição política para a democracia no Brasil, um processo ainda em construção.
Entre as matérias produzidas chama a atenção a que foi levada ao ar pela EBC, uma vez que nela, sem que isso tenha sido programado, as fontes interpretativas da notícia – os professores Melillo Dinis do Nascimento e José Geraldo de Sousa Junior, este último apresentado como membro da Comissão de Acompanhamento da Constituinte da CNBB, à época – são membros da Comissão Justiça e Paz da Arquidiocese de Brasília.
Em seus respectivos depoimentos, ambos coincidem sobre o significado dessa eleição. É certo que não a vêem como um fato único, determinante do fim da ditadura, porque avaliam que um tremendo processo de mobilização social já mostrara o esgotamento do regime e a sua perda de legitimidade: as mobilizações sociais e sindicais (comícios e manifestações por eleições diretas), os movimentos pela anistia e a luta pela convocação de uma assembléia nacional constituinte livre e soberana já demarcavam, no mesmo período, a agenda política do país.
Mas a eleição no Colégio Eleitoral foi um marco porque representou uma derrota para o regime, com a vitória do candidato (Tancredo) das oposições (ainda que consentidas) contra o candidato do regime (Maluf). E essa eleição permitiu assumir a agenda das reivindicações populares: a Emenda Constitucional 26, de 1985 convoca a Constituinte e insere uma cláusula de ampliação da anistia, colocando na agenda da transição o requisito da memória e verdade, e coma nova Constituição (1988), restaura-se o sistema de eleições livres no país, restabelecendo-se, de forma ampla, o princípio de democrático da alternância pacífica do poder, o mais longevo da história republicana brasileira.
A matéria mostra que os entrevistados coincidem na análise dos antecedentes e pressupostos desse importante momento político e estão de acordo sobretudo, com a avaliação do legado daquela conjuntura. De fato, eles apontam para a importância de demarcar um momento crítico de superação de um regime de exceção, com alta repressão e tutela do social, para inaugurar-se uma fase de democracia de alta intensidade, com mobilização social e com um sistema de exercício direto da participação e de controle social das políticas públicas e da governança em nosso País.