Esse foi o tema da última Conversa de Justiça e Paz de 2016, promovida pela Comissão Justiça e Paz de Brasília, que aconteceu no seu espaço habitual – Auditório Dom José Freire Falcão (Anexo da Catedral), dia 5/12, sob a Coordenação do membro da CJP/DF, Professor Agnaldo Portugal, tendo como expositores o Professor José Geraldo de Sousa Junior, ex-Reitor da UnB e membro da CJP/DF e Dom Leonardo Ulrich Steiner, Bispo-Auxiliar de Brasília e Secretário-Geral da CNBB.
Esteve presente e fez a saudação de abertura o Cardeal Sergio da Rocha, Arcebispo de Brasília e Presidente da CNBB. Dom Sergio abriu a Conversa com uma palavra de gratidão por todos e todas, não apenas os membros da CJP – de Brasília e Brasileira – que “enobrecem o trabalho da Justiça e da Paz”. Com o Papa Francisco, encerrando o ano Jubileu da Misericórdia, evocou o “dom da memória aberta e viva”, contido no do ensinamento de Cristo e da Igreja – “seus critérios e valores”, para manter abertas as “portas da reconciliação e do perdão que, ultrapassando o mal e as divergências, abre todas as vias possíveis de esperança”. Para Dom Sérgio, essa é “a maneira especial com a qual a Misericórdia, ilumina não apenas a reflexão, mas os caminhos de realização da Justiça e da Paz”.
Dom Leonardo, a seguir, trouxe o tema da “Ética da Misericórdia, Caminho da Justiça e da Paz”. Partindo de uma erudita e esclarecedora análise sobre a crise atual da Ética (“Temos a percepção de que a dimensão política da vida humana que parece se impor com força é a economia – poderíamos dizer – os valores que efetivamente valem acabam senso os econômicos e somente a partir deles é que se medem os valores éticos, estéticos e religiosos”), ele desdobrou o tema da Misericórdia, em quatro pontos. O primeiro para acentuar o quanto na sociedade ocidental, hoje, por impulso de uma racionalidade técnico-científica e instrumental, nos desenraizamos de um modo de viver habitual, reflexo do divino, com a perda do projeto de “constituição do homem humano”. Para ele, “o mistério do ser é, para o homem vindouro, que somos chamados a ser hoje, como uma fonte que brota no deserto da desolação planetária”. Em outras palavras, “ele é o chão e a raiz do homem humano”.
Dom Leonardo discorreu ainda, sobre a Ética propriamente dita, a Misericórdia e a Fraternidade, para firmar que realizam o saber e a atitude “concernente ao bem viver e ao bem-agir do homem”, para indicar que “o homem se constitui a si mesmo nos seus relacionamentos”, e “modo de realização da própria existência”.
O Professor José Geraldo de Sousa Junior, ex-Reitor e membro da CJP/DF, abordou o tema da conversa recuperando o sentido de esperança contida na mensagem do Papa Francisco, quando se interpreta a partir de sua mensagem que aponta para a realização da Misericórdia e da Justiça se contrapor ao “sistema socioeconômico reinante” a busca de um “projeto-ponte dos povos diante do projeto-muro do dinheiro. Um projeto que visa o desenvolvimento humano integral. … o desenvolvimento do ser humano na sua integralidade, o desenvolvimento que não se reduz ao consumo, que não se reduz ao bem-estar de poucos, que inclui todos os povos e as pessoas na plenitude da sua dignidade, usufruindo fraternalmente a maravilha da criação. Este é o desenvolvimento do qual temos necessidade: humano, integral, respeitoso pela criação, desta casa comum” (Discurso aos Movimentos Sociais, no Vaticano em 5/11/2016).
Em sua exposição o professor procurou se por em sintonia com o enunciado de incompletude do humano, para lembrar, com a melhor doutrina político-filosófica sobre os direitos humanos, tal como asseverou Dom Leonardo, que o humano é uma construção na História e a resultante das lutas por dignidade, a partir das quais expandimos essa condição, como tarefa e como projeto. Como diz o filósofo (Hegel), “não se nasce homem (ou mulher), torna-se homem (ou mulher), na experiência de expansão histórica do humano”. †rata-se de um projeto-Esperança. E Esperança e Misericórdia, são o enlace a partir do qual, os direitos humanos se constituem como caminho para a Justiça e a Paz.
A Conversa fluiu do modo amoroso e fraterno entre os presentes e ao final, na palavra do Presidente da CJP/DF José Márcio de Moura foram renovados os votos de mantermos os compromissos de Igreja e de Comunidade para continuar a trilhar esse caminho.
Assista a Conversa na íntegra:
Por Comissão Justiça e Paz