José Geraldo de Sousa Junior
Ex-Reitor da UnB (2008-2012) é membro da Comissão Justiça e Paz da Arquidiocese de Brasília.
Mais um auspício marca este 21 de abril, data de fundação de Brasília, assim como de Roma. Em primeiro escrutínio, com mais de 450 eleitores, bispos e cardeais reunidos em Aparecida para a sua 53ª assembléia, dom Sergio da Rocha, arcebispo de Brasília, foi eleito presidente da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil).
A eleição já era de certo modo esperada, não obstante as circunstâncias próprias ao segreto pontifício que cerca eventos relevantes, como o processo de escolha de bispos, ou de seus mais importantes dirigentes. O jornalista J. D. Vital chama a atenção para esse mistério, em seu livro Como se Faz um Bispo (Editora Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, 2012), no qual revela a própria escolha de dom Sergio para a Arquidiocese de Brasília em 2011, pondo em relevo “a quase certeza” dessa escolha e antecipando algo notável, a capacidade desse jovem bispo (nascido em 17/10/1059), para agregar unanimidade.
Então como agora, tratou-se de situar em Brasília, o centro político das relações nacionais e internacionais que o Brasil protagoniza, um pastor investido da plenitude da ordem sacerdotal, capaz, por suas qualidades pessoais, intelectuais e espirituais de portar o báculo, com discernimento e serenidade .
Com efeito, altamente preparado, dom Sergio estudou Filosofia no Seminário de São Carlos – SP e Teologia na PUC de Campinas – SP. É licenciado em Filosofia pela Faculdade Salesiana de Lorena – SP. Fez Mestrado em Teologia Moral pela Pontifícia Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção, de São Paulo, e obteve o Doutorado na Academia Alfonsiana da Pontifícia Universidade Lateranense, em Roma, em 1997.
A elevada formação intelectual é um dos quatro traços marcantes do novo presidente da CNBB, tão bem delineados por Raimundo Caramuru Barros por ocasião de sua designação para arcebispo de Brasília. Caramuru destaca outros três aspectos aludindo a sua larga experiência como educador, um dos fatores que o prepararam para a sólida dimensão pastoral que ele foi chamado a desenvolver no exercício do seu múnus episcopal; seu testemunho pastoral de amor a Deus e amor ao próximo demonstrado no exercício de seu ministério de presbítero e de bispo; e, finalmente, o seu excepcional dinamismo revelado por sua atuação em diversos níveis, nas arquidioceses que dirigiu e também em importantes setores e estruturas da própria CNBB, bem como no Conselho Episcopal Latino-Americano – CELAM
Trata-se de uma vocação à disposição do diálogo, uma exigência para os tempos presentes. Dom Walmor Oliveira de Azevedo, Arcebispo de Belo Horizonte (MG), diz em artigo recente que o diálogo e a capacidade de dialogar são a forma de revelar e comprovar a envergadura moral e cidadã.
Não é, pois, ocasional, que o Papa Francisco afirme, em sua Exortação Apostólica Alegria do Evangelho, ser a “política uma dimensão sublime da caridade”. E eis aí algo que é legítimo esperar e confiar, à luz dos atributos do novo Presidente da CNBB, a sua enorme competência para construir canais de diálogo, no ambiente pastoral e também iglesia ad extra.
Artigo publicado pelo Jornal Correio Braziliense – 21/04/2015