Brasil: horizontes éticos e políticos para superar a crise – 03/07/2017

“Como a solidariedade, também a ética incomoda; ela é considerada contraproducente; como muito humana, porque relativiza o dinheiro e o poder; como uma ameaça, porque rejeita a manipulação e a submissão da pessoa. ”

Papa Francisco. Discurso aos embaixadores,
Sala Clementina no Palácio Apostólico do Vaticano
Quinta-feira, 16 de maio de 2013.

Convite_Conversa de Justiça e PazO país atravessa, mais uma vez, grave crise ética e política. Nem ainda completamos um ano do traumático processo de impeachment da Presidenta da República Dilma Roussef, e as multidões já retornaram às ruas, novamente em junho, mas dessa vez clamando por eleições “diretas já”. A cada nova (fase de) operação da Polícia Federal, a cada novo vazamento de interceptações telefônicas, a cada nova “delação premiada”, o enredo dos escândalos políticos ganha semanas ou até meses de novos capítulos fartamente editados e explorados pela cobertura midiática, gerando um ambiente de instabilidade social, política e econômica, cujos efeitos deletérios sobre o cotidiano da sociedade brasileira não tardam a se mostrar. Personagens políticos que antes acusavam, contritos, agora também são alvo de acusações com aparente farto material probatório.

Ao mesmo tempo em que os casos de corrupção política são revelados e explorados, garantias constitucionais que protegem os indivíduos contra os abusos da ação estatal parecem ser relativizadas ou mesmo desprezadas em nome do “combate à corrupção”. Outro problema ético da maior gravidade.

Mas a crise não é apenas de falta de ética na política e, em certa medida, no próprio sistema de justiça. Vivemos também uma crise de valores, que vai muito além do problema moral que afeta o sistema político e que nos leva a refletir sobre que projeto de país e de nação queremos construir. O reformismo proposto pelo governo pós-impeachment, que amputa da cidadania inúmeros direitos e políticas sociais, parece caminhar para a desistência (ou recusa) em vencer a luta contra a miséria e a profunda desigualdade social que seguem manchando a história nacional desde nosso passado colonial e escravocrata. Outras promessas constitucionais também são “deixadas de lado”, como a reforma agrária, a demarcação de terras indígenas, os direitos de identidade e a luta contra a discriminação etc.

Com Sua Santidade o Papa Francisco somos permanentemente chamados a refletir sobre a gravidade do tempo que vivemos. Sua mensagem profética ao mesmo tempo nos exorta e inspira para a ação transformadora. Se a crise é de falta de ética e solidariedade, como nos diz Francisco, o momento pede que saiamos do conforto, e que incomodemos. Na carta endereçada aos membros e conselheiros da Pontifícia Comissão para a América Latina, cuja assembleia (março de 2016) havia sido dedicada a discutir os compromissos dos leigos na vida pública dos países latino-americanos, o Papa pede que evoquemos sempre o povo como o “horizonte para o qual somos convidados a olhar e sobre o qual refletir”. Para ele “olhar continuamente para o povo de Deus salva-nos de certos nominalismos declarativos (slogans) que são frases bonitas, mas não conseguem apoiar a vida das nossas comunidades”.

Para refletirmos juntos sobre o tema do nosso encontro, a Comissão Justiça e Paz da Arquidiocese de Brasília convida para a Conversa de Justiça e Paz, de julho, dia 03, das 19.00 às 21.00 horas, no Auditório Dom José Freire Falcão (Anexo da Catedral).

Para compor a mesa como expositora contaremos com a jornalista TEREZA CRUVINEL. Militante do movimento estudantil nos anos 70, na Universidade de Brasília, sofreu com a repressão do governo militar e só pode retornar à Universidade após a anistia para concluir seu curso de Jornalismo em 1981. Ali fez também seu mestrado em Comunicação Social. Começou sua carreira profissional em 1982, dedicando-se logo ao jornalismo político. Atuou na TV Brasília, Jornal de Brasília, Correio Braziliense, Jornal do Brasil e O Globo, trabalhando neste último por 24 anos. Como repórter, cobriu a campanha das “Diretas Já”, a eleição de Tancredo Neves e a “Transição”, a Constituinte e todo processo de redemocratização. A partir de 1986 passou a escrever a coluna Panorama Político, na página 2 de O Globo, o que fez por 21 anos (1986-2007). Foi também comentarista política da Globonews nos primeiros 10 anos do canal. Tereza Cruvinel é autora do livro “Cristina Tavares – uma guerreira do jornalismo e da política” e co-autora de “Jornalismo político para estudantes”. Em 2007, assumiu o cargo de presidente da EBC – Empresa Brasil de Comunicação, a convite do presidente Lula e do ministro-chefe da Secom, jornalista Franklin Martins. Em 2013, Tereza deixa a TV Brasil e a EBC e se muda para a RedeTV! para ser comentarista de política do RedeTV! News.

Também teremos a honra de contar com a participação do Dr. MARCELLO  LAVENÈRE  MACHADO. Marcello Lavenère é advogado desde 1961, professor universitário, integrante de organizações não governamentais, conferencista requisitado, examinador em concursos públicos e bancas acadêmicas. É bacharel em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco e em Filosofia pela Universidade Federal de Alagoas, onde também obteve licenciatura em Didática. Possui ainda mestrado em Direito pela Universidade de Brasília e especialização em Didática do Ensino Superior pela Universidade Federal de Alagoas. Entre militância acadêmica, cívica e profissional, Lavenère acumulou um protagonismo singular em que se destaca a figura do advogado comprometido com a ética e com a justiça. Foi como Presidente do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil que assinou, juntamente com Barbosa Lima Sobrinho, o pedido de impeachment do Presidente Fernando Collor no início dos anos 90. Fundou e coordenou o Movimento pela Ética na Política que reuniu as entidades da sociedade civil brasileira na defesa da moralidade na Administração Pública, do que resultou o pedido de impeachment do Presidente Fernando Collor, movimento que posteriormente se transformou na Campanha contra à Fome e à Miséria e pela Geração de Emprego, coordenado pelo IBASE. Foi também relator, no Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana do Ministério da Justiça, do parecer sobre o Massacre do Carandiru em que se concluiu pela responsabilidade da Polícia Militar do Estado de São Paulo. Atuou ainda como expositor na Comissão de Direitos Humanos do Parlamento Europeu em 1993 de denúncia sobre a existência de trabalho escravo na área rural brasileira, representando a Societé des Droits de l’Homme. Mais recentemente presidiu a Comissão de Anistia do Ministério da Justiça (março de 2003 a fevereiro 2007); foi membro da Secretaria Executiva da Coalizão pela Reforma Política Democrática e Eleições Limpas (2014/2015); e, desde 2011, é membro da Comissão Brasileira de Justiça e Paz, órgão da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil-2010/2017.

Reforçamos, pois, o convite à nossa comunidade e aos paroquianos ligados à Cúria Metropolitana, para a nossa Conversa de Justiça e Paz, de julho, dia 3, das 19h às 21h, no Auditório Dom José Freire Falcão, Anexo da Catedral Metropolitana de Brasília.

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