Juventude e Cultura de Paz foi o tema da Conversa de Justiça e Paz – 05/06/2017

Esse foi o tema da Conversa de Justiça e Paz do mês de junho,  realizada no dia 5, no Auditório Dom José Freire Falcão, na sede da Cúria Arquidiocesana de Brasília, cumprindo programação da Comissão  Justiça e Paz de Brasília.

Participaram da Conversa, convidados pela CJP/DF, a universitária Mestre em Relações Internacionais pela UnB Laura Lyrio (Juanita), integrante do Movimento Levante Popular da Juventude; o estudante secundarista Gabriel Pereira, Dirigente do Grêmio do CEM 111 do Recanto das Emas, integrante do Movimento RUA – Juventude Anticapitalista e membro do coletivo TV Reflexo Digital pela Democratização da Comunicação; e Tadeu Rocha, indicado pelo Setor Arquidiocesano de Juventude.

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O tema, pautado de modo prioritário no planejamento estratégico da CJP para o ano de 2017,  ganhou relevo na medida em que os Bispos, em  mensagem aprovada por ocasião do encerramento de sua 55a. Assembléia Geral, reunida em Aparecida, de 26 de abril a 5 de maio, exortaram para “o grave momento nacional”, incluindo entre as suas preocupações acerca do “que está acontecendo com o Brasil”  a exigência de um “esforço de superação do grave momento” que vive o País e sobre a questão “preocupante, também, (da) falta de perspectiva de futuro para os jovens”.

Conforme dados oficiais extraídos da página oficial do órgão de acompanhamento das políticas públicas para a juventude, o Brasil possui cerca de 50 milhões de jovens, com idade entre 15 e 29 anos, que já demonstraram determinação em assegurar seus direitos e ocupar um lugar de destaque no processo de desenvolvimento do país. Mas, apesar dos avanços que a juventude vem conquistando, não só no Brasil, mas em diversos países, sabe-se que muitos dos mais de um bilhão de jovens do Planeta permanecem sem acesso a direitos básicos, como saúde, educação, trabalho e cultura, sem falar dos direitos específicos, pelos quais vêm lutando, de forma cada vez mais expressiva nos últimos anos, além da violência direta a que estão expostos.

Mas, a pergunta  que motivou essa Conversa de Justiça e Paz, é a que indaga, se esse estado de coisas pode mudar. Exatamente essa pergunta se fez o Papa Francisco, há poucos meses, em manifestação dirigida aos jovens (Vaticano, 13/01/2017) : “Na inauguração da última Jornada Mundial da Juventude, em Cracóvia, perguntei-vos várias vezes: «As coisas podem mudar?». E juntos, vós gritastes um «Sim!» retumbante. Aquele brado nasce do vosso jovem coração, que não suporta a injustiça e não pode submeter-se à cultura do descartável, nem ceder à globalização da indiferença. Escutai aquele clamor que provém do vosso íntimo! Mesmo quando sentirdes, como o profeta Jeremias, a inexperiência da vossa jovem idade, Deus encoraja-vos a ir para onde Ele vos envia: «Não deves ter […] porque Eu estarei contigo para te libertar» (cf. Jr 1, 8)”.

Para o Papa Francisco,  conforme ele salientou naquela ocasião, “um mundo melhor constrói-se também graças a vós, ao vosso desejo de mudança e à vossa generosidade. Não tenhais medo de ouvir o Espírito que vos sugere escolhas audazes, não hesiteis quando a consciência vos pedir que arrisqueis para seguir o Mestre. Também a Igreja deseja colocar-se à escuta da vossa voz, da vossa sensibilidade, da vossa fé; até das vossas dúvidas e das vossas críticas. Fazei ouvir o vosso grito, deixai-o ressoar nas comunidades e fazei-o chegar aos pastores”.

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O Papa Francisco,  de fato, tem convocado os jovens para um protagonismo que parta de uma disposição de se fazer ouvir: “Desejo dizer-lhes qual é a consequência que eu espero da Jornada da Juventude: espero que façam barulho. Aqui farão barulho, sem dúvida. Aqui, no Rio, farão barulho, farão certamente. Mas eu quero que se façam ouvir também nas dioceses, quero que saiam, quero que a Igreja saia pelas estradas, quero que nos defendamos de tudo o que é mundanismo, imobilismo, nos defendamos do que é comodidade, do que é clericalismo, de tudo aquilo que é viver fechados em nós mesmos”. E que logo se converta num engajamento transformador: “Por favor, não deixem para outros o ser protagonistas da mudança! Vocês são aqueles que tem o futuro! Vocês… Através de vocês, entra o futuro no mundo. Também a vocês, eu peço para serem protagonistas desta mudança. Continuem a vencer a apatia, dando uma resposta cristã às inquietações sociais e políticas que estão surgindo em várias partes do mundo. Peço-lhes para serem construtores do mundo, trabalharem por um mundo melhor. Queridos jovens, por favor, não olhem a vida da varanda, entrem nela”. Sem medo de errar ele arremata numa outra ocasião (Encontro em Vila Nazareth, 18/06/2016): “Já repeti muitas vezes: arrisca! Arrisca. Quem não arrisca não caminha. “Mas se eu errar?” Bendito o Senhor. Errarás mas se permaneceres parado, parada: este é o erro, o erro terrível, o fechamento. Arrisca. Tenta ideais nobres, sujando as mãos, arrisca como fez aquele samaritano da parábola. Quando estamos mais ou menos tranquilos na vida, há sempre a tentação da paralisia. Não arriscamos: estamos tranquilos, quietos (…). Aproxima-te dos problemas, sai de ti mesmo e arrisca, arrisca. Caso contrário a tua vida lentamente tornar-se-á paralisada; feliz, contente, com a família mas estacionada — para usar a tua palavra. É muito triste ver vidas estacionadas; é muito triste ver pessoas que parecem mais múmias de museu que seres vivos. Arrisca! Arrisca”.

O que o Papa diz aos jovens é (Encontro com os Voluntários da XXVIII JMJ, Rio de Janeiro, 28 de julho de 2013):  “que sejam revolucionários … que se rebelem contra esta cultura do provisório que, no fundo, crê que vocês não são capazes de assumir responsabilidades, crê que vocês não são capazes de amar de verdade”…  que vençam “a indiferença e conquistem a paz… paz, (todavia, paz que seja) fruto duma cultura de solidariedade, misericórdia e compaixão”.

Os convidados corresponderam plenamente as essas expectativas. Para Gabriel, falando de um lugar de “periferia” social, reside aí a primeira exigência de protagonismo que é buscar o acesso à cultura, à justiça e a paz. Envolver-se num processo desse modo, que se constitua “um começo de inserção no mercado de trabalho”, de forma “realista e não apenas  etérea”, mobilizando um “segmento (os jovens) em processos sociais que lhes tragam autonomia e que representem não apenas um caminho mas uma possibilidade real de saída como alternativa à marginalidade e ao crime”. Para ele “a ocupação critica das escolas trouxe para os secundaristas que participaram dessa experiência a dimensão criativa que uma consciência ampliada por uma educação para a autonomia pode proporcionar”.

Laura (Juanita), colocou-se a partir de seu lugar de militante de movimento social de juventude (Levante Popular da Juventude) que atua num sentido de “organização, formação e luta” e que se move por um projeto ético, de solidariedade aos trabalhadores da cidade e do campo para enfrentamento “à lógica do capital que é projeto de morte”. Para o seu Movimento, juventude não é uma abstração recortada de uma faixa etária – compreendida entre os 15 e os 29 anos, mas um processo que se revele na disposição para as suas exigências de mobilização e formas de atuação: marchas, atos, acampamentos, manifestações, escrachos (estes para desvelar as práticas ocultadas de violadores de direitos humanos que intentam eximir-se das responsabilidades e reparações exigidas pela memória, pela verdade e pela justiça tal como designadas nos fundamentos da chamada Justiça de Transição) sob o enfoque de uma estratégia de agitação e propaganda.

1Por fim, Tadeu procurou responder aos enunciados do texto de motivação referidos às exortações do Papa Francisco e afirmou, neste sentido, que “sim, é possível mudar e vivenciar a mudança”. Desse modo, expôs os pilares, as premissas e os compromissos ativos que orientam as atividades do Setor de Juventude da Arquidiocese, para a realização de uma cultura de paz. Assim, indicou ser necessário rejeitar a expressão mundana dessa cultura, ainda que objeto de enunciados institucionais (UNESCO), para afirmar que a paz não pode orientar-se pelas ambiguidades do provisório, devendo buscar o sentido de eternidade que, para os católicos e para a Igreja que os organiza, só se realiza enquanto “imagem de Cristo… fruto da justiça e efeito da caridade”. Com João XXIII, indicou os seus balizamentos: verdade, liberdade, amor e justiça, posicionando-os, todavia, em alusão a Santo Agostinho, no sentido de que tais atributos devem levar a um estado de “tranqüilidade da alma decorrente da disposição ordenadora que permite realizar fins”. Conforme as palavras do expositor: “não se parte da estrutura para o indíviduo e sim do indivíduo para a estrutura”.

É na subjetividade de introjeção do “Cristo em cada jovem” que se forma o “espaço de comunhão arquidiocesano” no qual se estabelecem as várias “atividades do setor: a escola de líderes (vocação, fé, liturgia), o congresso jovem, o night fever que desde as jornadas da juventude mobiliza a juventude católica, também em Brasília”.

Na Conversa do dia 5, estiveram presentes interlocutores habituais: membros da CJP/DF e da CBJP; professores e professoras da UnB (Glória Moura, Nair Bicalho, Antonio Teixeira), os padres Moacir Gondin (Ceilândia) e Geraldo Conever (Planaltina); o radialista Chico Pereira. Também presentes, jovens de movimentos (Levante, Rua) e de Pastorais; o presidente do Conselho Federal de Economia Julio Miragaia e o Chefe de Gabinete da Secretaria Nacional da Juventude Kécio Rabelo (que é também membro da CJP/São Luís), o Professor Guilherme Delgado. O professor Guilherme suscitou para a plateia instigante questão posta aos debatedores, entre os quais, apesar da diferença de enfoques, percebeu ponto comum de espiritualidade, à partir da qual, ele problematizou a dimensão teológica da história. Estiveram presentes também os Missionários do Juazeiro de Norte que estão em missão em Brasília.

52A Conversa foi moderada pelo Professor José Geraldo de Sousa Junior, membro da CJP e presidida pelo Presidente da CJP Engenheiro José Márcio de Moura Silva. Na mesa Cardeal Dom Raymundo Damasceno fez a acolhida aos participantes, mostrou a importância do tema para a Igreja e para o Papa Francisco. Ao final, lembrou que o dia do evento é também o dia internacional do meio ambiente, informando que o Papa Francisco estuda a possibilidade de convocar um Sínodo da Amazônia. Por isso, a CJP/DF presenteou cada expositor e expositora com um exemplar da Carta Encíclica do Papa Francisco Laudato Si’ sobre o cuidado da casa comum.

Por Comissão Justiça e Paz

Assista a essa Conversa:

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