#15M: A insurreição estudantil e o país sem respostas às questões contemporâneas. Algumas análises
Por: Patricia Fachin, João Vitor Santos e Ricardo Machado | 17 Maio 2019
As manifestações contra o contingenciamento anunciado pelo governo para a área da educação, que ocorreram em todas as capitais brasileiras na última quarta-feira, 15-05-2019, foram “surpreendentes” e indicam “um termômetro do descontentamento”, avalia o economista Paulo Kliass. Segundo ele, em quatro meses e meio de governo, Bolsonaro “está conseguindo o fato impressionante de juntar todo mundo contra as suas intenções, inclusive aliados que votaram nele ou na sua base no Congresso”. Para o economista, a manifestação que inicialmente estava sendo organizada por sindicalistas, professores e funcionários públicos foi ampliada pelo “destempero” do ministro da Educação e do presidente, que chamou os jovens de “idiotas úteis”. “Isso acabou criando um caldo de cultura que unificou o conjunto da comunidade acadêmica e acabou sensibilizando outros setores e familiares de alunos, de professores e de funcionários em torno de um sentimento generalizado de perceber que o que está colocado em questão é o futuro da educação, assim como a previdência é o futuro dessa geração”, afirma.
Para Bruno Cava a insurreição estudantil da quarta-feira se expressa na cauda longa de Junho de 2013, trazendo, uma vez mais, à tona um país sem respostas às questões contemporâneas. “Os protestos nas ruas testemunham que o país está longe de estar pacificado, que o sistema político não achou nenhuma saída para o tríplice desafio da crise econômica, de representação e da metrópole”, pondera. Segundo Cava, apesar de ter havido mudanças nos nomes do governo – de Dilma, passando por Temer, até chegar a Bolsonaro –, a forma política se manteve intacta, razão pela qual as ruas, desde Junho de 2013, tentam desorientar a bússola governamental. “Tudo isso é uma expressão cada vez mais audível de um novo proletariado metropolitano e biopolítico que, nas coordenadas locais brasileiras, segue perturbando as tentativas de restabelecer a ordem colocada em xeque em 2013”, complementa.
Rudá Ricci avalia que a manifestação do 15M foi “um sucesso estrondoso, um sucesso muito maior do que os organizadores imaginavam”. Para ele, fica evidente que, embora não reconheça, o governo foi abalado. “E abalou principalmente os apoiadores e formadores de opinião desse governo. É o caso do Movimento Brasil Livre – MBL, que postou no Twitteruma avaliação muito sensata, por sinal, dizendo que o governo errou na leitura do que significa a educação no Brasil e abriu uma brecha para a esquerda, um espaço que há muito tempo ela não conseguia ocupar. O Antagonista, que é um veículo que também sabemos que é muito conservador, acusou que [Jair] Bolsonaro ficou isolado”, destaca.
Para o professor Carlos Eduardo Santos Pinho, “as manifestações estudantis já deram o sinal de que o governo necessita urgentemente remodelar sua postura autoritária e dialogar com as diversas instâncias da sociedade”. “O fato é que o anúncio dos cortes de forma atabalhoada e desastrada suscitou a insatisfação tanto de segmentos defensores de maiores investimentos públicos para as instituições federais de ensino superior quanto daqueles que criticam a (suposta) ineficácia dessas instituições”, observa. E acrescenta: “O mandatário populista de extrema direita e conservador nos costumes, ao chamar os estudantesde “imbecis” e “idiotas úteis”, fomenta um ambiente de hostilidade e polarização”.
Cesar Sanson lembra que o movimento teve “adesão de praticamente toda a sociedade e grupos sociais, da classe média que tem seus filhos em universidades públicas, aos mais pobres que também aspiram chegar a essas instituições de ensino superior, uma das poucas referências de ensino de excelência”. Entretanto, quando se trata de avaliar se os protestos abalam o governo Bolsonaro, Sanson é ponderado. “O mercado sustentará o governo até o limite enquanto esse continuar fiel à sua agenda, sobretudo a da Reforma da Previdência.”
José Geraldo de Sousa Júnior pontua que a manifestação de quarta-feira teve “unidade de agenda, com alianças que superaram antagonismos não contraditórios” e “sinalizou que a rua é o lugar simbólico da ação instituinte dos movimentos sociais e dos sujeitos coletivos, para a reivindicação democrática de direitos”.
Na entrevista a seguir, os convidados pela IHU On-Line também comentam quais podem ser as consequências políticas dessas mobilizações e estabelecem relações com as jornadas de Junho de 2013.
Leia na íntegra: http://www.ihu.unisinos.br/589221-15m-a-insurreicao-estudantil-e-o-pais-sem-respostas-as-questoes-contemporaneas-algumas-analises