Semana de Oração pela Unidade Cristã:
Que venha o Novo Pentecostes!
por Cristina Isabel de Carvalho
Para quem não sabe, o último domingo antes do Pentecostes chama-se Exaudi. Segundo o Pastor Nelson Kilpp, celebrante de hoje no culto da IECLB Recife, tal expressão latina significa “escuta!” e remete a um pedido de socorro a Deus. Nessa data, rememora-se o período após a ascensão de Jesus, em que os discípulos sentem-se abandonados por Jesus e o Espírito Santo ainda não havia sido derramado. O Domingo inaugura a Semana de Oração pela Unidade Cristã que culminará em Pentecostes, marcado pela comunicação e comunhão entre pessoas de culturas diferentes, inclusive com diversos idiomas e que se compreenderam mutuamente.
Essa orfandade ainda se manifesta em muitos momentos da atualidade. Não é fácil ter confiança em Deus em um contexto adverso, como se observa na oração de Habacuque 3. 16-19. Nesses versos, o íntimo do autor se traduz em uma natureza sofrida, que, no entanto, não o impede de alegrar-se em Deus, com a certeza de que Ele o fará passar pelas dificuldades com a agilidade e segurança de uma gazela. É essa maturidade na fé que deve nos guiar em quaisquer dificuldades.
Este ano, o texto base da Semana de Oração pela Unidade Cristã – SOUC foi pautado por cristãos e cristãs da Indonésia. Sua população é caracterizada pela diversidade em vários aspectos, inclusive o religioso, com predominância muçulmana, que nem sempre convive bem com outras expressões de fé. A monocultura da palma para produção de biocombustível está substituindo a floresta tropical do arquipélago. O País sofre também com a desigualdade social, em que a miséria se alastra como uma doença que mata muita gente. O texto bíblico escolhido foi, portanto, tirado de Dt 16,20: “Procurarás a justiça, nada além da justiça!”
No Brasil, a adaptação do tema voltou os olhos para a tragédia em Brumadinho, em Minas Gerais, que não é um caso isolado em termos de ataques ao meio ambiente. Ela mostra que a busca por lucros passa por cima de vidas humanas e despreza a criação de Deus. Além dessa injustiça ambiental, ainda há a social tanto na Indonésia quanto no Brasil: a riqueza dos cinco maiores bilionários brasileiros ultrapassa a soma da renda de mais da metade da população em nosso país. Quanto à questão religiosa, o assassinato de um pastor por outro por discordâncias acerca da Bíblia mostra quão desafiadora é a tarefa de promover a unidade. O próprio Cristo evidenciou que isto é imprescindível em sua oração sacerdotal, como está registrado no Evangelho de João 17. 20-27, onde diz: “Para que todos sejam um, como tu, ó Pai, o és em mim, e eu em ti; que também eles sejam um em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste”. Buscar viver a união em Cristo Jesus é a única forma de fazer com que o mundo creia.
O texto de Deuteronômio 16.11-20, no qual se encontra o tema da SOUC: “Procurarás a justiça, nada além da justiça”, nos desafia a que busquemos promover a justiça em nosso meio, onde se observa o abismo entre a qualidade de vida da maior parte da população mundial, de um lado, e de uma elite que destrói os recursos naturais para gerar o lucro que se concentra em suas mãos e que lhe garante o poder político necessário para manter esse status quo, de outro. E o que seria promover a justiça? Não obstante a infinidade de concepções acerca desse conceito, há uma regra de ouro presente em praticamente todas as religiões: “não faça a outras pessoas o que não deseja que façam a você, ou, então, faça às outras pessoas o que você gostaria que fizessem a você” (cf. Mateus 7,12). A aplicação desse preceito possibilitaria olhar as questões sociais sob outra perspectiva, percebendo que o interesse próprio e o da coletividade se entrelaçam, pois, afinal de contas, quer aceitemos ou não, descobriríamos que nós somos um.