Arquidiocese relembra luta por Justiça e Paz no ano do Jubileu

Foto: Composição da mesa (Mauro Noleto, Norma Silva, Dom Sergio, Pe. Virgílio e Pe. Ernanne)
Foto: Composição da mesa (Mauro Noleto, Norma Silva, Dom Sergio, Pe. Virgílio e Pe. Ernanne)

A “Dimensão Social da Arquidiocese de Brasília” foi o tema da Conversa de Justiça e Paz realizada na noite de segunda-feira (4/11), no auditório da Cúria Metropolitana. O evento foi festivo, pois a Comissão Justiça e Paz de Brasília (CJP-DF), promotora do evento e um dos principais pilares sociais da Arquidiocese, celebra 33 anos de atuação neste ano Jubilar de 60 anos da Igreja no Distrito Federal.

Cardeal Arcebispo de Brasília Dom Sergio da Rocha

Cardeal Arcebispo de Brasília, Dom Sergio da Rocha, destacou a importância da Comissão para a Igreja: “Tem sido um dos frutos preciosos da história da nossa Arquidiocese e ao mesmo tempo tem contribuído para construir essa mesma história”. O Cardeal relembrou a oração para o ano jubilar em que a fé deve ser professada, celebrada e vivida e que a missão da Igreja não acontece só pelo anúncio da palavra, mas também pelo testemunho, cada vez mais necessário. “A dimensão social integra (faz parte), não pode faltar na ação evangelizadora da Igreja. É a expressão do ser sal da terra, luz do mundo que caracterizam o agir cristão”, expressou o Cardeal.

A CJP foi criada em agosto de 1986, por ato do então Arcebispo de Brasília, Dom José Freire Falcão. Entre os fundadores estavam o juiz de direito Sebastião Corrêa Rios, sua esposa Ione Veiga Rios, que esteve presente no evento, assim como os advogados Carlos Alves Moura e José Geraldo Sousa Júnior, e o advogado Luís Carlos Sigmaringa Seixas, falecido em dezembro de 2018, mas lembrado com muita distinção pelos presentes, e cuja memória foi reverenciada pela Comissão, como seu membro fundador e incansável lutador das causas sociais e dos direitos humanos. Durante o evento, o Pe. Ernanne Pinheiro, membro da CJP, fez um resgate de gênese das Comissões Justiça e Paz no mundo, na América-Latina e no Brasil, iniciadas a partir do Concílio Vaticano II.

 

 

A Igreja e a luta por moradia

No domingo, 6 de setembro de 1987, uma homilia coletiva dos bispos de Brasília foi publicada no semanário “O Povo de Deus”. O texto tratava de um movimento por moradia existente na quadra 110 norte, área nobre da Capital, mas que era ocupada por operários e donas de casa há anos. Os moradores estavam sendo duramente reprimidos pelo governo que lhes ofereceu duas opções: voltar para suas cidades de origem ou alojarem-se em cidades circunvizinhas Mas eles queriam ficar. A Igreja de Brasília mediou o conflito por meio da Comissão Justiça e Paz e da Paróquia Nossa Senhora das Graças, na Asa Norte, que acolheu as famílias desalojadas.

Diz parte do texto, trazido pelo atual presidente da CJP Mauro Noleto. “Ao intervir em questões sociais, a Igreja não o faz por interesse político-partidário ou em busca do lucro vil, nem com o objetivo de dar solução técnica ou econômica ao problema, mas pelo imperativo de defender os interesses da pessoa humana”. A homilia foi assinada por Dom José Freire Falcão, Dom Geraldo Ávila e Dom Raimundo Damasceno, à época bispo auxiliar de Brasília e hoje Cardeal Emérito de Aparecida, também presente ao evento dessa segunda-feira.

 

Norma Silva da Vila Nova Esperança

Norma Silva, uma das líderes daquela comunidade e atual presidente da Associação de Moradores da Vila Nova Esperança, onde residem as famílias daquele movimento por moradia, trouxe seu testemunho. “Se não fosse a Comissão Justiça e Paz com certeza nós não teríamos conseguido chegar aonde chegamos hoje”, disse emocionada. A Vila Nova Esperança fica às margens da BR 020, na entrada de Planaltina. O terreno onde as famílias ergueram suas casas foi adquirido com recursos obtidos em ações sociais da Paróquia São José Operário, da Asa Norte. Anos mais tarde, esses mesmos moradores devolveram os recursos à paróquia, a fim de que esta ajudasse outras comunidades.

 

 

Pe. Virgílio Uchoa

Um dos protagonistas desta ação foi o Padre Virgílio Uchôa, então membro da CJP. Hoje, com 81 anos, ainda é um dos pilares da Vila Nova Esperança e dos moradores do Lago Oeste, onde é pároco emérito da Paróquia Nossa Senhora dos Migrantes. Ele apontou caminhos de ação para a Comissão Justiça e Paz a partir desse ano jubilar da arquidiocese, entre eles a luta por moradia, transporte público e preservação de nascentes. “Mas tem outros direitos que em uma análise de conjuntura se pode mapear, focar e lutar por eles”, reforçou.

 

O presidente da CJP, Mauro Noleto, relembrou outros momentos históricos em que a participação da entidade ajudou a mudar a realidade social, como a campanha Paz no Trânsito, realizada em 1996, a defesa de catadores de materiais recicláveis do Setor Noroeste em 2017 e no mesmo ano, o Encontro dos Movimentos Populares com o Cardeal Dom Sergio da Rocha. “A Comissão se renova e continua o seu trabalho de evangelização e de defesa dos direitos da pessoa humana, sempre tendo como referência o ensinamento pontifício, a doutrina social da Igreja e o Evangelho de Jesus Cristo”, destacou.

 

Membros da CJP-DF e Convidados

Por Allan Barbosa, Jornalista e membro da Comissão Justiça e Paz de Brasília.
Apoio Karla Pereira

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