Na última segunda-feira, dia 1º, realizou-se no Auditório da Cúria Metropolitana de Brasília mais uma Conversa de Justiça e Paz, cujo enfoque foi a Responsabilidade Social e Ética da Mídia Católica. Tema relevantíssimo na conjuntura atual que completou uma série sobre comunicação.
O expositor convidado foi o Professor Moisés Sbardelotto, jornalista, mestre e doutor em Ciências da Comunicação, autor do livro E o Verbo se Fez rede. Religiosidades em Reconstrução no Ambiente Digital, publicado pela Editora Paulinas, que foi exposto no recinto pelas Irmãs Paulinas, a quem agradecemos pela colaboração incluindo a estada do professor em Brasília, que veio especialmente do Rio Grande do Sul para a Conversa.
Falando para um auditório muito interessado e atento, a exposição foi registrada pela TV Comunitária Canal 12 (NET) de Brasília, que divulga em sua programação todas as Conversas de Justiça e Paz e pelo canal no Youtube da CJP, com a apresentação do jornalista Allan Barbosa, membro da CJP, que coordenou a mesa, com a participação – recepção e exortações – do professor José Geraldo de Sousa Junior e padre José Ernanne Pinheiro, membros da CJP.
Uma nota de destaque para o público presente constituído de: membros da CJP-DF e da CBJP (e do Observatório da Política), de José B. Teixeira, da Cáritas, de professores da UnB, entre eles Venício Lima (que fez Conversa anterior sobre Fake News), de integrantes da OAB (federal e distrital), do padre Paulo Adolfo, secretário-executivo do CEFEP – Centro de Formação Política Dom Helder Câmara, do padre Moacyr Gondim, da Paróquia São Mateus em Sobradinho II – destaca-se também a presença de membros da Pastoral de Comunicação da Diocese de Formosa – GO e a presença especial de Polianna Carla, vice-coordenadora da PASCOM (Pastoral de Comunicação) de Brasília, que teve participação ativa na Conversa.
Partindo de uma exortação do Papa Francisco, contida na Gaudete et Exsultate ( Sobre o Chamado à Santidade no Mundo Atual), no que se refere exatamente à Tolerância,, a Paciência e à Mansidão (n. 115), o expositor extraiu do nosso Papa a consideração de “mesmo nos media católicos, é possível ultrapassar os limites, tolerando-se a difamação e a calúnia e parecendo excluir qualquer ética e respeito pela fama alheia”.
Os elementos estruturantes da sua exposição estão articulados em três eixos principais:
1. A desordem informacional (Mis-informação: Falsa conexão; Conteúdo enganoso; Sem intenção de prejudicar. Má-informação: Base real, edição manipulada; Vazamentos; Assédios; Discursos de ódio. Desinformação: Contexto ou conteúdo falso ou manipulado. Tem intenção de prejudicar.; cf. FALSO NOCIVO Relatório do Conselho da Europa sobre “Desordem informacional” (2017);
2. A responsabilidade social e ética segundo a Igreja;
3. A responsabilidade social e ética das mídias católicas (comunicar-se com o mundo, mas não como mundo, comunicar uma Boa Nova ao mundo e comunicar com a vida pessoal e eclesial).
Com o Papa, põe em relevo: “o drama da desinformação é o descrédito do outro, a sua representação como inimigo, chegando-se a uma demonização que pode fomentar conflitos (…) cujo único resultado é o risco de se dilatar a arrogância e o ódio.” (Dia Mundial das Comunicações Sociais- DMCS 2018), para assim exaltar “O princípio ético que deve reger o uso dos meios de comunicação social (que) consiste em respeitar a pessoa e a comunidade humana na sua dignidade e importância, que jamais podem ser sacrificadas por nenhum interesse. Portanto, é necessário observar o valor da pessoa e o bem comum nas ações comunicativas” (n. 111) [a serviço da justiça e da paz; n. 105].
Nesse sentido, com base no DMCS, destaca que “A Comunicação a serviço dos direitos humanos, poderá realizar-se em plenitude o verdadeiro desenvolvimento, que é, para todos e para cada um, a passagem de condições menos humanas a condições mais humanas” (n. 116).
De modo muito interessante, reunindo os preceitos e as diretrizes contidas em documentos pastorais sobre o tema, lembra que “é preciso evitar reproduzir apenas a visão particular de um determinado movimento, grupo ou associação de fiéis. Em tempos de crescente privatização da experiência religiosa, de fundamentalismos, de devocionalismos e de manipulação do sagrado, assiste-se um demasiado acento em especificidades de carismas e estilos de compreender a fé, nem sempre consonantes com o magistério” (p. 14)”. E de novo, trazendo o magistério do Papa Francisco, mostra o quanto “Cada um de nós sabe como é difícil e quanta humildade exige a busca da verdade. E como é mais fácil não se fazer muitas perguntas, contentar-se com as primeiras respostas, simplificar, permanecer na superfície, na aparência; contentar-se com soluções óbvias, que não conhecem a fadiga de uma investigação capaz de representar a complexidade da vida real. O que move a busca é a humildade de não saber tudo antes. A presunção de já saber tudo é que a bloqueia.” (Associação de Imprensa Estrangeira na Itália, 18/05/2019).
Por isso, é tão “urgente que toda mídia colabore, efetivamente, para que os fiéis cultivem e concretizem o senso de pertença individual e familiar às comunidades, às paróquias e às dioceses […] evitando exagerar em campanhas que afetem o dízimo e a colaboração do fiel em suas comunidades. […] Cabe questionar uma eclesiologia que sustenta mais o evento midiático que o processo comunitário, que é teologicamente inerente à condição cristã” (p. 15).
Em conclusão, propõe, com as diretrizes do DMCS 2018, que “uma comunicação de paz é feita “por pessoas para as pessoas e considerado como serviço a todas as pessoas, especialmente àquelas – e no mundo, são a maioria – que não têm voz.” E que para os católicos, “Inspiradas pela Palavra de Deus e pela Doutrina Social da Igreja, as mídias tornam-se também instrumentos privilegiados de resgate da ética na vida pública, da educação para a cidadania e da construção da casa comum. Para tanto, elimine-se qualquer discurso de negação da política e a instrumentalização partidária das mídias católicas” (p. 15). Finalmente, que a
“A missão essencial dos meios de comunicação de inspiração católica é o serviço aos pobres, a defesa da vida e dos direitos dos mais vulneráveis e excluídos, e a denúncia das intoleráveis desigualdades sociais e econômicas” (n. 136), numa prática, teológica e eclesial que se comportam em Três Saberes:1. Saber escolher (examinar, priorizar, decidir) 2. Saber ler (interpretar, refletir, desvendar) 3. Saber escrever (inscrever-se, engajar-se, reescrever), interpretáveis por meio de três expressões geradores, simbolicamente, três Ps indicados pelo Papa: Pão, Palavra e Pobre, começo, meio e fim de todo empenho eclesial voltado para uma comunicação ética e cristã.
Por fim, o expositor compartilhou com os presentes os slides em que baseou a sua exposição e generosamente os ofereceu (podem ser vistos em nossa página), para todos e todas que queiram utilizá-los em suas reuniões pastorais, em seus grupos de estudos e nas várias dinâmicas pedagógicas de nossos coletivos de reflexão.
Por Comissão Justiça e Paz
Acesso o material usado pelo Professor Dr. Moisés Sbardelotto: #brasilia_justica_paz